segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Diálogo dos anjos II

 Diálogo dos Anjos II

    • Ei Maleh!
    • Opa Miguel, como vai?
    • Que está fazendo aqui embaixo? Estamos nos preparativos e você sumiu!
    • Fui enviado numa missão surpresa, estou aqui há um tempo observando, vendo como fazer.
    • Quem é?
    • O senhor de preto no banco pensando.
    • Qual a história?
    • Parece solitário, um pouco cínico, como a maioria deles nesse tempo, estão pensando que são os donos da história.
Este escreveu outro dia que neste século nenhum humano tem qualquer causa pela qual esteja disposto a morrer, e que essa foi a causa de todos os males e guerras que tiveram, e que disto não tem um pingo de saudosismo. Acho que perturbou nosso Senhor um pouco.
    • É, Ele sabe o que faz. O rapaz parece não ter pelo que viver também.
    • As vezes tenho pena deles, assim sempre tão distantes, procurando por nós aqui tão perto. Mas as vezes não faz o menor sentido este trabalho.
    • Você sabe quanto o Rei fica contente quando um deles ouve, mesmo eles achando que tiveram a iniciativa.
    • Sim, tem razão.
    • Esse cara deve ter tido uma vida dura, se ele não tem pelo que morrer, nem pelo que viver, qual seria o valor dessa vida?
    • Por isso estou aqui. O seu avô fazia parte do partido comunista na Rússia, lutou na revolução, acreditava que isso levaria todo o seu povo à dignidade. Morreu no fronte pela causa em que cria. O seu pai cresceu com sua mãe no interior, e culpava o sistema pela sua perda tão jovem. Depois da Segunda Guerra se mudou para a Alemanha Oriental, e conseguiu fugir do Regime. Se tornou um grande comerciante, se mudou para a América e fez fortuna. Se transformou no inverso do que seu pai havia sido, odiava todas as certezas convictas do comunismo, mas defendia com armas em punho seu dinheiro e o capitalismo americano.
      Quando seu filho estava com 21 anos, a União Soviética se desfez, sem ter contra o que lutar, com a fortuna feita, e sem maiores objetivos, tirou sua vida com um tiro na garganta. Seu filho, este aí, jurou que esta covardia jamais lhe invadiria. Contudo aí está.
    • Mais uma vida desgraçada pela razão. Era melhor quando nosso trabalho era mostrar porque deveriam parar de guerrear.
    • A guerra parece ser quem traz a paz, porque só assim eles veem que estamos por perto.    

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