sexta-feira, 2 de abril de 2010

Uma noite comum

Era uma noite comum.
O dia havia sido agitado de trabalho, e a noite chegou como um presente.
Cansado, nem o sedutor assento passivo em frente a televisão foi páreo para o desperdício de tempo do culposo colchão.
No embalar do sono, ouvi um som estridente e crescente que foi me despertando aos poucos, quando percebi estava acordado, e o interfone já havia parado de tocar.
Olhei no relógio, meia-noite e meia.
O interfone soou novamente.
Assustados, eu e minha esposa estávamos em pé como por um salto, e fomos em direção ao interfone. Branco, bem no meio da parede vermelha, soando alto, provavelmente acordando os vizinhos do lado e de cima, deixei tocar sem coragem de atender àquele horário.
O que poderia ser?
Depois de um longe tempo atendo o interfone, o porteiro com uma voz sonolenta avisa que o carro está com o alarme disparado a algum tempo, e pergunta se podemos desliga-lo antes que ele enlouqueça com o barulho.
Eu troco de roupa saio ao estacionamento, percebo o olhar cortante do vizinho pela janela, desligo o alarme e volto para cama tranqüilo.
Poderia ter sido isso, como também poderia ter sido outra hipótese, na qual me concentrei mais nesse momento.
Um grupo de ladrões criminosos renderam o vigia, pode ser que até o tenham matado enforcado o mastro da guarita para mostrar quem é que manda no bairro. E agora estão tocando o interfone incessantemente, visto que nosso apartamento no térreo é um dos únicos sem grades nas janelas.
Quem sabe ouviram o som dos instrumentos algum dia saindo de lá e resolveram fazer uma limpa. Com tantos números porque justo o nosso?
Ou talvez por sermos os únicos moradores do térreo naquele bloco a não ter filhos pequenos, e o trauma seria menor. Nunca saberemos.
O fato é que nesse momento ouvimos a porta de alumínio do bloco sendo forçada para ser aberta.
Nos entreolhamos, e aí tínhamos certeza. O vigia foi rendido e estávamos sendo atacados por estes malditos ladroeiros.
Aí eu tomei as medidas de segurança mais eficazes que encontrei no momento. Nunca tendo passado por qualquer coisa parecida, meu coração batia desesperado, a boca ressequida, e a cabeça pensando em como se proteger deste mal tão iminente. Peguei a cadeira mais pesada para usar de arma e me afastei para atrás da porta, se eles entrassem, fossem quantos fossem, um deles seria abatido(por uma cadeira). Quando tinha certeza da nossa estratégia de defesa, e já armava o contra-ataque, o inimigo nos pegou de surpresa dando a volta no bloco mostrando a intenção de invadir pela janela. Estávamos cercados.
O barulho na porta continuava, enquanto a Carol ouvia uma movimentação na grama. Mudando a estratégia corri para o quarto, e qual fosse o primeiro a entrar seria o abatido. Como um lobo acuado, já estava suando e só esperando qual dos dois iria invadir primeiro, entrando na sala e chegando ao corredor seria pego desprevenido pela cavalaria.
Neste momento a Carol se dirigiu a janela, e avistou a síndica do prédio, me avisou meio que num cochicho. A coisa toda estava degringolando.
Era pior que imaginávamos, nossa posição era apenas uma de diversos ataques, talvez os últimos, já que nosso bloco é o do fundo. O fato é que já tinham por refém nossa líder (No prédio vive-se uma sociedade matriarcal).
Não sabia mais nem o que pensar, com a síndica como álibi poderiam entrar e levar tudo o que quisessem de todos os apartamentos do bloco. Mais tarde fui lembrado que poderia ter entrado em contato com a polícia.
Levei um susto, a janela foi aberta. Estavam entrando. Fui para o outro quarto preparado para tudo, mas vi que a Carol tinha aberto a janela e conversava com um deles.
Esse um era justamente síndica, certamente estava explicando a situação, e que era melhor nos entregarmos por bem, pois já não havia mais nada a ser feito.
Ela olhava debaixo a sacada com uma feição muito assustada, como de quem quer que tudo se resolva o mais rápido possível e da melhor maneira.
Quando me aproximei para encarar os criminosos, ela estava explicando justamente que o homem precisaria entrar no prédio pelo nosso apartamento, pois a porta do bloco estava emperrada, mas que não ia nops fazer nenhum mal, pois era apenas um chaveiro 24 horas que veio destravar a porta do bloco para que todos pudessem sair sem problemas na manhã seguinte.
Depois de umas duas horas deitado remoendo esta história é que consegui voltar ao sono tranqüilo anterior.

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